April 19, 2018
Como prevenir e tratar as alergias que têm o seu pico na Primavera
A “febre” da PrimaveraCom a Primavera chega o bom tempo, os passeios ao ar livre e… os espirros, comichão nos olhos e no nariz, tosse e dificuldade em respirar. A culpa é do pólen que é transportado pelo vento e pelos insectos.
A rinite alérgica, que se for sazonal é também conhecida como “febre dos fenos”, é a doença alérgica mais comum em Portugal, estimando-se que afete 30% da população. A patologia é provocada pela alergia aos grãos de pólen, condição que, além de afetar o aparelho respiratório, pode também causar reações nos olhos ou na pele.
Visto que o pólen se encontra no ar e que o pico da polinização é na Primavera, a melhor forma de evitar as reações alérgicas, nesta altura, é limitar tanto quanto for possível o tempo que se passa ao ar livre, sobretudo durante a manhã, fase do dia em que a concentração de pólen é maior, e também nos dias de mais vento.
Para ajudar os pacientes que sofrem de alergia ao pólen, a Rede Portuguesa de Aerobiologia divulga, desde 2002, um www.spaic.pt, fornece informação sobre os pólenes clinicamente mais prevalentes, em Portugal Continental e Ilhas.
Mais recentemente, foi lançada a aplicação A aplicação gratuita foi desenvolvida por uma equipa mundial de especialistas em alergias de que fazem também parte representantes nacionais.
ENTREVISTA
Manuela Sousa Fernandes, Imunoalergologista do Hospital de Loulé
Quais são as alergias mais comuns nesta época do ano, a “época alta” das alergias?
A Primavera é a época em que, se e por um lado os nossos sentidos se deslumbram com a chegada dos campos floridos e das temperaturas amenas, por outro as queixas alérgicas se intensificam de forma exponencial. A elevação progressiva e contínua das quantidades de pólenes no ar e a flutuabilidade dos valores de humidade e temperatura ambientes, promovendo, em simultâneo, níveis também muito elevados de ácaros, amplificam as queixas alérgicas respiratórias, oculares e cutâneas.
Quais os sintomas clássicos das alergias respiratórias?
A rinite, ou "febre dos fenos", é a mais comum e manifesta-se por espirros frequentes, congestão e corrimento nasal, prurido no nariz, garganta, olhos e ouvidos, podendo ainda haver cefaleias e alterações do olfato e da audição. A conjuntivite alérgica, que regra geral é companheira fiel da rinite, apresenta-se com prurido ocular, lacrimejo, sensação de "areia"dentro do olho e fotofobia. Por último, a asma brônquica, o quadro mais grave e que pode aparecer isoladamente ou em associação com a rinoconjuntivite. Caracteriza-se por queixas de opressão torácica, cansaço, falta de ar, tosse persistente e pieira. De destacar que a tosse irritativa persistente (por vezes associada a sensação de comichão ou "picadas " na garganta), pode ser a única manifestação clínica de asma, em especial nas crianças. Pela sua maior gravidade, a avaliação médica e a orientação terapêutica, em caso de asma brônquica ou sua suspeição, deve ser feita com caráter de alguma urgência.
De que formas pode o doente portador de alergia proteger-se, no seu dia-a-dia, em casa?
No que toca às alergias primaveris, os fatores desencadeantes são basicamente fatores ,pelo que a profilaxia tem a ver com a menor exposição do doente ao ambiente de ar livre. As atividades em recinto fechado são as mais indicadas, por exemplo, em vez de uma corrida ao ar livre, pode fazer-se passadeira em ginásio ou exercício aquático. É extremamente vantajoso fechar as janelas e recorrer ao ar condicionado sempre que possível, não só em casa, mas também em viagens de automóvel. É desejável usar aspiração central ou aspiradores com filtro Hepa, bem como pano húmido ou esfregona. Antes de dormir, deve tomar-se banho e lavar a cabeça, evitando a presença de pólenes na roupa de cama.
Há outros cuidados que se possam ter na rua?
Nos meses com grande carga polínica, em especial, Abril, Maio e Junho, devem evitar-se atividades ao ar livre, especialmente de manhã. Passeios pelo campo ou corridas ao ar livre são desaconselhadas, mas, caso sejam imprescindíveis, deverão ser feitas ao final do dia. Face ao risco acrescido, nesta época, de reação às picadas de insetos, é recomendável usar um bom repelente, evitar perfumes intensos e roupa muito colorida. Atividades agrícolas ou de jardinagem não são as ideais para estes doentes. Deve usar-se óculos escuros e para quem viaja de mota, o uso de capacete integral é uma boa escolha.
Qual a importância do diagnóstico para evitar o desenvolvimento de futuras de doenças?
Quanto mais precocemente se identificar a doença alérgica, mais fácil será proceder ao seu controlo e tratamento e evitar complicações futuras.Ao contrário do que se ouve com frequência, não existe limite mínimo de idade para o despiste da doença alérgica, que pode ser diagnosticada desde que a criança nasce.
Devem sempre fazer-se os testes às alergias? Que tipos de exames de diagnóstico existem?
Os testes para estudo das alergias são inúmeros, mas os mais usados são os testes cutâneos. Dentre estes, testes por picada são os mais largamente usados em consultas da especialidade. Seguros, praticamente indolores e com leitura em minutos, são usados como ferramenta básica de estudo em quase todos os alérgicos, em especial na alergia respiratória e alimentar. Outros testes cutâneos, como os testes de contacto ou intradérmicos são opções a ter em conta. As provas de provocação requerem cuidados especiais e usualmente serão feitas em meio hospitalar.As provas de função respiratória, em especial na asma e na bronquite crónica e exames de imagem são também um valioso auxiliar.
Quais os riscos da automedicação? Existe perigo em tomar anti-histamínicos com outros medicamentos?
A medicação por conta própria implica riscos desnecessários e deve sempre ser evitada. A facilidade de consulta da informação online pode gerar a ideia de que a automedicação é segura, abdicando-se da opinião médica, o que é um erro. Fármacos usados de forma indevida podem agravar a doença, ao mascarar os seus sintomas ou ao promover associações farmacológicas inadequadas, em que um medicamento pode anular ou potenciar os efeitos do outro .Os anti-histamínicos, mesmo os de uso corrente, têm indicações e doses personalizadas e alguns efeitos adversos, não devendo ser usados sem indicação médica
Os doentes alérgicos podem também recorrer à vacinação como forma de prevenção?
De uma forma geral, aceita-se que as vacinas de prevenção infecciosa, quer as vacinas antigripais e antipneumocócicas, quer os lisados bacterianos, podem ter um importante papel na melhoria da doença alérgica respiratória, prevenindo ou minimizando o papel das infeções no desencadear das crises. No que toca à Imunoterapia Específica, as vulgares vacinas "anti-alérgicas", elas representam, quando os doentes são selecionados com prudência e critério, um dos mais valiosos recursos para controlo e melhoria da doença alérgica.