Hospital de Loulé

Doenças cardíacas na prática desportiva

26 de Abril de 2019

Doenças cardíacas na prática desportiva

Quando se pratica desporto é indispensável ter atenção aos principais fatores de risco e realizar rastreios que avaliem o funcionamento do coração, aconselha a Cardiologista Paula Gago
Doenças cardíacas na prática desportiva

No dia 25 de janeiro passaram 15 anos desde a morte de Miklós Fehér, um dos mais mediáticos casos de morte súbita em Portugal, transmitido em direto na televisão. Nos instantes finais do jogo com o Vitória de Guimarães, o avançado húngaro do Benfica caiu e ficou inanimado no relvado, provocando uma onda de choque e comoção. Os casos de morte súbita de jovens atletas continuam a acontecer em Portugal e a ser amplamente noticiados embora, segundo a Cardiologista Paula Gago, sejam situações raras. “É raro, mas tem muita notoriedade pública porque sucede em indivíduos jovens e aparentemente muito saudáveis e é por isso devastador”. A especialista diz mesmo estar provado que o desporto de alta competição pode reduzir o risco de no futuro os jovens virem a ter doença coronária, contudo, há que ter alguns fatores em conta. “Na generalidade, a morte súbita com o exercício é mais frequente no género masculino, nos atletas por volta dos 40 anos, que não praticam regularmente exercício e naqueles que têm doença coronária ou fatores de risco para doença coronária”, esclarece. De acordo com a Cardiologista do Hospital de Loulé, a causa mais frequente da morte súbita em atletas com mais de 35 anos é a doença coronária e a idade onde este evento é mais frequente é por volta dos 42 anos. “Embora o exercício reduza a doença cardiovascular, nos atletas que tenham já a doença, o risco de morte súbita não é desprezível durante o exercício vigoroso”, refere. O mecanismo da morte súbita é comum e transversal a todos os atletas vítimas desta situação: trata-se de uma arritmia denominada de fibrilhação ventricular que motiva a paragem cardíaca (o coração deixa de contrair).


ENTREVISTA

A Cardiologista Paula Gago fala na importância da prevenção e de como capacitar a população em Suporte Básico de Vida e no uso de Desfibrilhadores Automáticos Externos poderia ajudar a reduzir o número de vítimas de morte súbita


A partir de que idade e com que frequência devem ser feitos rastreios ao coração?

Primeiro, deve ser feita a avaliação do risco cardiovascular de forma individualizada. O risco calculado refere-se à possibilidade de o doente vir a ter um evento cardíaco fatal em 10 anos. Justifica-se fazer exames de rastreio naqueles doentes em que não têm sintomas cardíacos, mas que têm um risco moderado a alto de poder vir a ter um problema cardíaco. Existem subgrupos de doentes em que esta vigilância também deve ser apertada, como é o caso dos indivíduos com história familiar de doença cardiovascular precoce ou colesterol elevado familiar.

E no caso dos atletas, que exames de rastreio devem ser feitos para despistar eventuais doenças cardíacas?

Na maioria dos países europeus é recomendada a realização de um eletrocardiograma (ECG) e de uma avaliação médica. Se nesta primeira avaliação, se encontrar alguma alteração, então deve ser feita mais investigação, recorrendo a outros meios complementares de diagnóstico, como o ecocardiograma. Os indivíduos acima dos 35 anos que desejem iniciar uma atividade física regular de intensidade moderada a elevada, mesmo não sendo atletas profissionais, devem realizar exames de avaliação cardiovascular.

Existe alguma forma de prevenir a morte súbita de origem cardíaca?

A causa, na maioria das vezes, é devido a doença coronária (enfarte do miocárdio), que é a principal causa de morte a nível pré-hospitalar. O problema é que, muitas vezes a primeira manifestação da doença coronária é a morte súbita, não havendo sintomas prévios. A forma de reduzir a taxa de paragem cardiorrespiratória por doença cardíaca é através da prevenção (mudança de hábitos de vida e de redução de fatores de risco) e, por outro lado, possibilitando o socorro às vítimas o mais rapidamente possível.

Uma maior aposta na formação em suporte básico de vida (SBV) e uso de desfibrilhador automático externo (DAE) pode reduzir o número de mortes?

Visto que o tempo é crucial, a possibilidade de qualquer cidadão saber executar as manobras de suporte básico de vida seria muito importante, daí ser fundamental a formação, que pode começar logo a nível escolar. Os DAE são imprescindíveis para o maior sucesso na reanimação. É importante ter a noção que cada minuto conta, visto que na paragem cardiorrespiratória a possibilidade de sucesso diminui 10% a cada minuto que passa. Aos 10 minutos já é quase impossível reanimar com sucesso (sequelas neurológicas irreversíveis).




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